domingo, janeiro 30, 2005

no principio

no principio era o algo
esse inominável algo que
não podendo ser nada
tem de ser alguma coisa

e esse algo
formou tudo
e tudo formou nada
e da conjugação etéria
do tudo e do nada
surgiu a pergunta
que me atormenta

PORQUÊ?

porquê as coisas pequenas?
porquê as coisas grandes?
porquê tudo e todos?

sou um argonauta do conhecimento
busco a resposta a pergunta
a gnose
guardada por não sei quem
em não sei onde
mas navego
procuro nas ilhas a resposta a pergunta

procuro o guardião cego que me guia
procuro incessantemente
com a necessidade de um heroinómano
a resposta

e as palavras
e as letras
rasgam o meu corpo
com facas e com bisturis de precisão incrivel
e desfiguram-me e criam rios de sangue
e estátua de carne
modelo o meu corpo na forma
de um ponto de interrogação
em carne viva

a minha mente
na fina linha
entre o génio
e o louco
permanece
igual

este sangrento banquete
não serviu de nada
continua a imutável pergunta
sempre presente
porquê?...

e a resposta não vem
e eu continuo ignorante da questão
e não sei o que mais fazer
como parar este fluxo
de ideias que me atormenta.

mas um dia
conseguirei
explorarei todas as regiões
do cosmos mental
e regressarei dos infernos divinos
da minha mente torturada
com as respostas
e as respostas serão boas
e eu serei enfim feliz
na união cósmica
de todos os porquês
de todas as respostas
de tudo e todas as coisas

sexta-feira, janeiro 28, 2005

desejo

quero ser a linha entre a loucura e a sanidade
quero ser o espaço entre a luz e as trevas
quero ser o vazio entre as estrelas
quero ser o deus omnipotente deste mundo

quero aniquilar-me numa explosão monocromática de vermelho
quero implodir como uma estrela e formar um buraco negro
quero ser tudo e todos
quero sentir tudo menos o que sinto

quero poder abraçar-te sem te quebrar
quero poder tocar-te sem te sujar
quero poder beijar-te sem te conspurcar

quero um mundo melhor para todos
quero que o mundo acabe já
quero....

quero ser feliz
quero ser infeliz
quero ser bom
quero ser mau
quero ser

quero tudo e quero todos
quero nada e quero ninguém

quero todas as frases antitéticas
quero que elas deixem de fazer sentido por não o serem mais

quero esticar o braço e apanhar uma estrela mesmo que carbonize a mão

quero ser livre da dor
quero ser livre do amor
quero ser livre

quero tantas coisas...

não quero ser livre
de ti

quinta-feira, janeiro 27, 2005

As trevas

no meio de tudas as trevas
nunca julguei encontrar alegria
mas o que verdadeiramente encontrei
foi algo mais que isso,
bem mais que isso
o que encontrei
foi o calor
o belo sorriso
os olhos que parecem reflectir a luz das estrelas

tudo
tu

vagueava sem rumo,
pelos corredores escuros
da minha mente torturada
e lá encontrei uma porta dourada
abri-a
o que vi
foi um jardim
belo como o éden
e fechei a porta a medo
de ser rejeitado

sentei-me a porta e chorei
lágrima de sangue
enquanto os anjos se divertiam
do outro lado
(podia ouvir o seu sorriso, as suas gargalhadas)
pensei em seguir em frente
abrir as milhares de portas do valhalla invertido
da minha mente
mas não
fiquei
abri a porta e contemplei novamente a beleza
e uma lágrima solitária escorreu pela face
alojando-se no lábio, ligeiramente torcido num sorriso
não mais demente

e se for rejeitado?
e se cair de graça?
e se me tornar, juntamente com estes anjos esvoaçantes
um ser caido?
será isso pior que o que era antes?
não...
porque não então entrar no jardim
falar com os anjos,
ver a sua luz
sentir o seu calor e ser feliz
mesmo que por breves fugazes momentos?
SIM!
a resposta é clara
entro...
e as trevas findam, os corredores iluminados
por uma luz recem descoberta
e as personagens escondem-se bem fundo
e eu
que julgava estar morto
eu que sou a voz dos rios e das fontes
renasço
provo dos frutos e sou feliz
a sério.


(tentei escrever algo que estivesse de acordo
com o que eu sinto mas é practicamente
impossivel exprimir a alegria que sinto com
semelhantes crudes palavras

isto não é pseudo, mas verdadeiramente
dedicado a ti obrigado por existires e
desculpa este sorriso estúpido que trago na
cara, cada vez que te vejo.

és das melhores coisas que já me aconteceu.)

A luz

eu não vi a luz
eu estava cercada por ela
por todos os lados
a maravilhosa luz

mas escolhi
na minha própria ignorância
não a ver
voltei-me para dentro de mim
para o vazio tinha
para a escuridão
em vez de abraçar a luz
em vez de sorrir perante o seu calor humano
tentei, com a necessidade de um viciado na dor
fingir uma dor que não sentia
algo inexistente
e despresei a mais maravilhosa das coisas

as musas não me rasgavam a pele
tentavam somente fazer-me olhar a luz
a essência não se perdeu, tornou-se una com o mundo
a loucura não jurgiu expôntanea
criei-a como justificação para um sentimento idiota de dor
que não tinha razões para sentir
quando razões não haviam

estava cego mas agora vejo
uma expressão usada tantas vezes
por tantas pessoas
que não compreendem o seu verdadeiro sentido

EU estava cego mas agora EU vejo
e EU sei o que vejo
o que vejo é a luz maravilhosa dos teus olhos
que me faz sorrir e soltar
as únicas lágrimas que não secaram
lágrimas de alegria

o que eu via
era apenas uma pálida sombra
(pois todas as luzes causam sombras)
do meu torturado eu interior
mas a luz cura
a palavra cura
o gesto cura
o tempo cura enfim

a metamorfose está completa
fui ao extremo e passei-o e agora
e agora
sei a verdade
sei uma verdade
vejo a luz
(a bela, radiante luz)
sorrio estupidamente,
tento desesperadamente
e sou, então, verdadeiramente feliz
porque te conheci.

Palavra da salvação.
desculpa...

quarta-feira, janeiro 26, 2005

pedido de ajuda

não consigo parar... preciso de ajuda psicológica. Falo seriamente, como alguém que se apercebeu estar na beira da loucura, no abismo, pronto para saltar e voar, ou cair e morrer...
porque sou tão auto-destrutivo? porque continuo a ser o que sou mesmo quando so me causa dor? serei eu tão ignorante que não me apercebo que sou o fruto da minha propria queda?
podia pedir ajuda. Podia num momento de completa insanidade terminar tudo isto com um estrondo mas não o faço, a morte não me merece ainda...
porque continuo então? o que me prende a este mundo? tudo se desmorrona sobre meus pés, caminho sobre as cinzas das coisas que amo e, no entanto ainda resto eu... expliquem-me porquê, porque desfaço eu tudo aquilo em que toco, menos aquilo que mais quero desfazer.
porque está o meu mundo invertido? porque não tenho ajuda? sinto-me simultâneamente tão só e preenchido por um tão grande numero de demónios que me atormentam... em que ficamos?
a minha psique está torturada... não sei mais o que pensar ou sentir, não por tua culpa ou culpa de alguém em especial mas por minha unica e sincera culpa que não consigo evitar.
e continua, continua sempre estas sensações controversas e incoerentes de ser tudo o que não quero e nada do que queria ser... e das cinzas não se ergue uma fénix mas uma perversa contrução odiosa que me trás lagrimas aos olhos e a estátua chora comigo...
e depois de todas as confissões, depois de todos os sentimentos e ideias cuspidos para o papel permanecem e eu não consigo evitá-los, não consigo evitar o seu escárnio... e no entanto permaneço, agarrado a algo que não ser dizer o que é.

esta é a minha forma de pedir ajuda. estou a enlouquecer, façam um favor e coloquem-me num hospital psiquiatrico, necessito de descanço, nessessito de silêncio, necessito de estar entre os da minha espécie... sofredores ou loucos.

AJUDEM-ME POR FAVOR....

inferno

descer ao mais fundo dos infernos
queimar-me com a sua chama
marcado para todo o sempre
e desitir?

não
erguer-me-ei
subirei
ascenderei novamente
a todo o custo
serei livre
abrirei minhas assas queimadas
e voarei
nem que caia outra vez
e me queime mil vezes
mil vezes mil
infinitas vezes
tantas quantas forem preciso
até voar
até escapar

até ser LIVRE!!

gritar

GRITAR
EXPULSAR O DEMÓNIO
EXORCISAR A RAIVA E O ÓDIO
GRITAR

AHHHHHHH!

GRITAR SEMPRE
POR MAIS
POR MENOS
GRITAR
N INTERESSA PK
GRITAR
por ti

o resto

o resto?
qual resto?
o que sobra quando cães e abutres devoram a carne?

a alma?
não gozem comigo, matei a minha alma ha muito tempo

o espirito?
idiotiçe cristã...

tudo o que resta
do que antes era glorioso e cheio de vida
são os ossos brancos
puros de tudo
a brilhar no sol do deserto
da minha criação

e ser nada
o resto
que nada mais é que isso
o resto de tudo
o resto de mim

harpias

PORQUÊ MINHAS MUSAS?
PORQUÊ?
porque me castigais assim?
porque vos tranformais em harpias
que me desfazem a carne?

não vos cantei eu com toda a minha garra
com toda a minha sapiência?

porque me rasgais agora a pele?
porque me levais
coração, cerebro e ventre?
porquê?

cantei-vos oh musas
continuarei a cantar
mas a dor
oh musas
a dor causada por vós
é elouquecedoura
é agonizante
é algo que eu nunca senti

mas escavem bem harpias
rasgem bem fundo a minha pele
devorem meus olhos
consumamam-me todo
numa última orgia
numa ultima explosão que tudo aniquila
principio e fim
e a morte pelo meio

E EU MUSAS
ALFA E OMEGA
MÁXIMO E MINIMO
reduzido a nada
pela vossa mão
que tanto amo

perdão musa
pensei poder cantar-te bem
mas não passo de um trovador idiota
peço perdão
(perdoa-me...)

o fio

(desculpa-me mas não consigo parar de escrever... tornou-se um vicio que não consigo mais evitar, tentei resistir com todas as minhas forças mas não resisti... não consigo resistir... sou um fraco)

um globo
uma esfera de pura essência
presa pelo fio
a um espaço oculto
que não consigo descirnir

uma tesoura
que corta o fio
começo a cair
é apanhada
a esfera

mãos
tão ternas, tão macias, seguram-na
revolvem-na
e lágrimas escorrem pela sua superfície
e tudo é bom

então
as mãos largam
a esfera cai
o globo parte
a essência desaparece
o mundo torna-se negro

o fio cortado
continua pendente
no local onde a tesoura cortou

o globo em mil bocados
desfeitos
deixa deslizar uma ultima lágrima
nas suas faces curvas
a essêcia une-se ao negro vazio

tudo o que resta é este corpo desfeito
nesta alma desfigurada
e a esperança
a vã, cruel, omniprensente esperança
que eu tão detesto

sonhos

sonho
deitado na cama
tentando dormir
sonho

com tudo e com nada
sonhos efémeros e
sonhos que se gravam a fogo na memória

onde está o descanço?
porque não me larga o meu inconsciente?
porque me enche de metáforas
e de significados ocultos
que não compreendo?

onde está o oblíveo?
onde está essa não existência que anseio?
porque não consigo... por meros momentos
parar toda a actividade
corporal
espiritual
mental
ser apenas um zombie
temporariamente uno
sem impedimentos?

porque me atormentam com sonhos
de esperanças que não posso concretizar
porque me tentam assustar com pesadelos
de morte a quem não tem medo de morrer?

a quetão das questões
sobre toda a existência
sobre tudo e todas as coisas
mantêm-se cruel

porquê?

dormir

dormir
deslizar suavemente para a inconciência
tornar-me uno com a noite
a completa escuridão que me oprime o peito

dormir
tornar-me enfim numa coisa
mais pequena que um átomo

dormir
porque tu não estás aqui

e tentar ficar acordado com memórias
e toques e sentimentos
e não conseguir
porque doi

então durmo
e espero não mais acordar

terça-feira, janeiro 25, 2005

acordar

acordar
libertar-me deste torpor
que me invade, mesmo sem o querer
o corpo
e a alma

acordar
respirar bem fundo a luz da manha
saborear os ruidos matinais
olhar para o lado e ver-te lá

acordar
e desejar estar para sempre assim
naquela indolência estúpida
de quem não se quer mover

acordar
e tu estares lá
algures no mundo
ou aqui, ao pé de mim

sentir o teu corpo trémulo
a tua pele macia
que não me atrevo a tocar
com medo de acordar

e com esta visão de ti
fechar os olhos e dormir
com um sorriso estúpido na cara
de quem já não precisa de acordar

mais um... porque não?

não consigo ver sentido nas palavras dos outros
leio mas tudo me parece demasiado são
demasiado dentro dos limtes
controlado pela mente
e portanto controlado pela sociedade
pela fria sanidade

procuro algo sem nome, a revolta dos revoltados
a estrofe perfeita sublimada
de quem não tem nada a perder
se não a própria vida
num belo momento de união
com uma tonelada de explosivos

onde está essa bela maravilha?
onde habita esse estranho paraiso?
novamente me pergunto enquanto o rasto está quente
porquê?
onde estás tu?

não encontro a estrofe
não encontro a razão
não te encontro a ti
puta que pariu tudo isto

NÃO ENCONTRO NADA
EXCEPTO AQUILO QUE TENTO EVITAR

dor
amor
razão
sanidade
BUMMMMMMMMMMMMMMM
OBLITERADAS

e resto eu
ponto.

e

e são outra vez
volto a mim infeliz, não o consigo evitar
a musa, tão presente à 10 minutos
desapareceu
deixando apenas uma presença obscurecida
na minha mente

voltarei a ver-te?
voltarei a estar contigo
nesta terna união?

do silencioso ecrã
nenhuma resposta surge
resta-me esperar
pela manhã
e pelo resurgir

musa

numa explosão descubro a mais potente de todas as musas
numa implosão torno-me o seu amante mais fervoroso
ah o doce sabor da loucura
de não ser mais são

de poder lançar um grito sádico
quando crianças morrem no esgoto
de poder ser só sorisos perante os que morrem de fome

o poder
de não ser mais são
não estar preso pelas garras da realidade
dentro desta concha

dentro de esta complexa mente
sinapses rebentam
obliterando todos os sentimentos
apenas restando o louco e vazio espaço
que sorri
que ri com masoquismo deste mundo são

e como rio
como rio!!!!!!

MUSA
OBRIGADO
POR MOSTRARES O (IN)SENTIDO DA TUA EXISTÊNCIA

tuas danças
eróticas
erógenas
loucas
perfeitas
entrelaçam-me e eu já não sou eu
ja não sou o que acredito
sou um louco
e um louco poderoso
armado da palavra
graças a ti musa
obrigado

segunda-feira, janeiro 24, 2005

pseudo-intelectual sadistica proesia

gritar na paisagem sombria
rodeada de carvalhos mortos
impalados por gentes estranhas
que murmurram palavras de apreço

no chão em que caminho
milhares de seres
espezinhados sob os meus pés
e eu ralado

eu pisado por um ser superior
e ele ralado
e eu morrer
e não ser mais
e ninguém ralado

estar aqui e não estar simultânemante, teoria opostamente inversa à consciencia do ser (o que quer que isso signifique)
oposição do preto e branco
de tudo e todos

e gajas e corpos

e tudo em revolução
tudo a girar
até provocar vómito



pseudamente dedicado a ti
(sabes quem és)

sinfonia da loucura

escrever
eufórico
estático
olhos esbugalhados postos no pc

vejo
claramente o negro vazio onde nada existe
vejo
violinistas rasgarem a pele com as cordas
sinfonia louca
orgia de sangue e pulsos cortados

VEJO-AS!!!!
jactos e jactos e coisas e uma infinitude de coisas
e não vejo
ahahahah
um riso histerico aproveita-se da minha mente
demente
fragilizada

LOUCURA
ESTADO MAIS PURO DA PUREZA
eu!

frenetico escrevo estas palavras em menos de 5 minutos
o sangue, a sua doçe cor vermelha
o negro, o seu amargo sabor

rodeiam-me
espinhos e farpas e carnes rasgadas e coisas
muitas coisa me rodeiam
e eu rio
com o riso de quem não é são
de quem não pode ser são correndo o risco
de fazer todos os outros parecer loucos

e facas e golpes
e pele e órgãos
e sangue e sémen
e violações e violinos feitos de cabelos humanos

e tudo queimado nos fogos do juizo final
e tudo reduzido ao nada
e loucura em tudo
e tudo vazio de qualquer sentido ou razão

não ser no meio disto tudo
ser apenas o rastilho que inicia a explosão
ser a loucura que queima ca dentro
ser a fagúlha do fim do mundo

SER
AQUI
LOUCO!!!!

domingo, janeiro 23, 2005

verdade

axioma supremo
esta incerteza
que me perssegue
esta palavra a que falta uma defenição

realidade
verdade
o que são?

como podemos definir verdade?
realidade?
como sabemos o que é real?
o que é verdadeiro?

axiomas que aceitamos
(in)conscientemente
com medo de uma possivel
anarquia espiritual

porque?
temos medo de admitir
que não há verdade?
que a realidade não passa de algo
irreal?

não podem existir verdades absolutas
pois cada pensamento, cada acção está submetida
a alteração do nosso in(consciente)
deturpando a realidade

mas assim sendo...
o que é a mentira?
o que é irreal?
se nada existe sem o seu oposto?
o que sou eu senão o não-eu.
como posso existir, não-existindo?
serei real
seremos todos?
serão estes pensamentos reais
ou mera agitação molecular,
àtomos excitados que chocam mutuamente?

apenas consigo encontrar
essa verdade absoluta
na calma e fria racionalidade
que me fornece a ciência
será essa a unica verdade do mundo?

o bem e o mal?
o certo e o errado?
o amor e o ódio?
eu estou para além disso
eu sou a corda em que balança a verdade
eu que ja fui divino
e inspiro a divindade
não me contento em aceitar estes axiomas
procurarei incessantemente
mesmo dando a minha vida
as respostas as perguntas que me atormentam
estas crueis incertezas que tornam a vida impossível

divindades, poderes
divinos ou infernais
eu vos amaldiço-o
axiomas, todos vós provarei
todos vós tornarei não mais que mera constatação

quinta-feira, janeiro 20, 2005

dedicação

volto a fria sanidade
o poder da loucura
o meu infinito poder
que antes possuia
esvai-se nas minhas mão
qual areia da ampulheta

na areia molhada
no infitesimal espaço
do gargalo
um ser luta contra a passagem
da areia
que ameaça a sua existência

suas lágrimas fluem
quase sem se dar conta
e eternalmente
a areia passa
molhada

a sanidade
a cruel fria sanidade
apodera-se de mim
agarra-me com os seus tentáculos
não lhe posso escapar

esta sanidade
este tédio que se instala
esta incapacidade de loucura
esta sede de poder
tudo colapsa perante
o aperto da realidade opressiva

aqueles que anseiam pela loucura
da carne, do prazer,
ou simplesmente da insanidade
a todos vós verdadeiramente transcendentes
dedico a minha dor
o meu corpo
a minha mente
estas palavras que escrevo dolente
dedico tudo o que sou e tudo o que serei
a vós loucos
a vós

insanidade

Contemplai leitores a beleza da insanidade; a bela insanidade que para vós é uma loucura é, para mim, uma realidade, sim leitores, sou um louco, um louco que escreve e estes poemas se assim se podem chamar (com muita generosidade da parte dos leitores se assim o fizerem) são os frutos dessa mesma insanidade, e querem os sãos que os insanos deixem de o ser... como estão enganados...

Há poder na locura, na palavra que não tem propriamente sentido senão aquele que o leitor lhe quer dar e o real que apenas é sabido pelo poeta (ou neste caso o louco) é do balanço dessas duas coisas, interior e exterior, que nasce a poesia.

Vejam ilusões, risos, lágrimas, amores, paixões, vejam com a fome constante de alguém que procura algo. Leitores, eis o paraiso da insanidade, eis a grande e pérfida criação do século.

Eis eu e o meu suposto egocentrismo não mais latente, eis eu lutando contra as palavras e as frases e as prisões que são as rimas

Eis o supremo expoente da insanidade
EIS O QUE NOS FAZ HUMANOS
aqui, sempre presente, te adoro, te venero
eis tu ó inconformada dor que tanto me guias

obrigado
e obrigado ao leitor
por ler este desabafo

abaixo assina
eu, o avatar da loucura
obrigado

besta

na minha furia criadora
destruo todas as barreiras
torno-me uno com a minha escrita
verdadeira representação
do meu ego conflituoso
procuro incessantemente respostas
que não consigo encontrar
mas o que será mais importante?

as perguntas ou as respostas
a procura ou a necessidade de procura
o conformismo ou o incoformismo
ser ou não ser

eu
espelhado nestas palavras
estes pontos atómicos de origem tão simples
e tão misteriosa
serão eles eu?
serei eu eles?
que união é esta?
que corpos são estes que giram no vácuo?
este corpo sou eu
estas palavras são minhas

num grito de revolta do fundo do meu ser
as palavras formam-se sem parar
um grito calado ecoa nas páginas
no ecrã
onde quer que estejam

EU SOU!
AQUI ESTOU!

e o eco
atinge-me e apercebo-me da insanidade
dos axiomas
que aceito

mas que sou eu
senão insano?
senão esta besta louca que escreve
que é
que está aqui
esta besta que escreve
cruel metamorfo da sociedade
do amor
da dor

fusões crueis de todas estas coisas
na carnivora cidade
nasce uma nova raça de ser
EU!

sentimento

mas
o que se passa?
que sublime sentimento é este
que me invade
os meus olhos abertos
consomem a grande velocidade toda a informação
sinto-me capaz dos maiores feitos
artisticos, poéticos, sociais tudo
tudo ao alcançe de um desejo

este sentimento
para além da barreira máxima da dor
finalmente ultrapassada
o que é?
para além de todo o desespero
para além de tudo o que alguma vez senti
aqui estou presente
em toda a minha cruel inexistência
aqui
rodeado por este sentimento que não sei definir

arde
arde sem chama
ah como gosto do seu calor
poderes imensos
o que se passa no meu âmago?
terei libertado besta sombria?
que sensação indiscritivel é esta?
meu corpo parece liquido
meus interiores parecem contorcer-se
em harmoniosa dança perversa

a dor
ardor
sinto-me
enfim
LIVRE

é este o doce sabor da liberdade?

quarta-feira, janeiro 19, 2005

pornografia

a uma velocidade vertiginosa
os pensamentos ocorrem
as mensagens são passadas
o cérebro não mais sentindo
apenas pensando
escreve

não sei se o que escrevo é bom ou mau
não sei se o que escrevo é perverso ou divino
sei que o escrevo
(nem sei porquê)

expor-me qual pornográfica actividade
áqueles que não compreendem ou
interpretam de forma errada
a minha pornográfica confisão

não quero ser mal entendido
não quero ser mal
não quero ser
não quero
não

por favor...
protejam-me...

auto-comiseração

escrever
pela eternidade
o bater frenetico das teclas persegue-me
sempre
ainda ouço o seu barulho infernal na minha cabeça

à roda
o meu mundo gira sem qualquer eixo fixo
preso á sua propria natureza caótica
sufocantes sentimentos
viagem astral pela planície gelada da dor

fugir
fugir daqui
desta vida
de qualquer maneira
de qualquer modo
este tormento vivente
esta cruel incerteza
que é ter
o destinho certo
traçado
dor
lágrimas que tentam correr mas não caem
lágrimas que secaram para sempre
nos olhos de quem não consegue ver
mais que o seu proprio sofrimento
enterrado em auto-comiseração
o meu mundo roda

my dying bride 3

Mais uma vez procuro refúgio em algo que me fascina: a música; mais uma vez sou atormentado coma possibilidade de um futuro incerto
nesta minha situção parece emergir um novo sentimento indefinil
novamente procuro refúgio nos meus amigos da dor

My Dying Bride - The Deepest Of All Hearts (excerpt)

I only wanted to get you close to me
To feel the love inside of me
You turned away from me
You looked the other way
You didn't see my tears for you
I only wanted to take you in my arms,
And lay you down here with me
You tried to turn and flee from my side
You tore out the heart of me
If only you had stayed.
What may have been?
We could have been beautiful
Could have walked the earth, flown into the skies,
Swam the deepest of the seas
But you couldn't see anything in me
You strayed too far from my path
Maybe now you'll see everything in me
I'm sorry it had to be this way

corpo

poder rasgar-me todo
sangrar definitivamente esta angústia
esta esperança que sempre me consome
o espirito já apodrecido
por tudo o que me rodeia

poder ocultar todos estes sentimentos
ser socialmente correcto e calado
poder ser apenas uma réstia do nada
esse oblívio doce que me escapa

não ser o que sou
esta cruel criatura
auto flagelada
pela minha estupidez

a cruenta espada ergue-se novamente
pela sétima vez
cai sobre o meu corpo
mais uma chaga
mais uma cicatriz
mais um tormento

e eu rio
rio da minha dor
como qualquer masoquista
(pois o que sou eu senão isso?)
e tremo
tremo com as lágrimas que se acumulam
nos meus olhos
não mais límpidos

atado novamente
o chicote cai
cai sempre na frenética noite
que me consome

FERINDO
CORTANDO
uma orgia de sangue e destruição
da qual não posso escapar

RASGANDO
PERFURANDO
a dor amarga não me larga
tornei-me viciado no seu sabor

UMA ULTIMA FERIDA
vejo a multidão apontar e rir
uma lágrima
uma única lagrima solitária
escorre
misturando-se
o sangue do meu corpo
a fraqueza da minha alma
a condensada sensação de abandono
e eu sou
em toda a minha omnipotente majestade
apenas mais um tolo
auto-cruxificado

aqui jaz o meu corpo
diz o meu epitáfio
junto das rochas negras
aqui jaz o corpo de
um que sofreu
um que amou
um que desejou sofrer
um que desejou amar
um que simplesmente desejou
não ser
o corpo que aqui jaz
esquecido por todos.

rebelião

as vozes dos mortos
ecoam na minha cabeça
explosão de som
anarquicamente doloroso

incitam a revolta
"salva este mundo"
"torna-te o novo messias"

nas lagrimas dos mortos
na dor dos vivos
vejo clara a minha missão
REBELIÃO

CONTRA DEUS
CONTRA O HOMEM
CONTRA A DOR

marchando inexoravelmente
contra a eterna barreira da dor
porta estandarte do glorioso exercito
caminho
ergo bem alto
a cruenta espada
a magnifica bandeira
a eterna e única cruzada
nas mãos de um indivíduo

REBELIÃO

contra tudo e contra todos
pelo mundo melhor
UTOPIA JÁ!

VEDE NOS OLHOS DA CRIANÇA MORTA O VOSSO MUNDO PERFEITO
VEDE NAS LAGRIMAS DOS POETAS SEDENTOS O VOSSO MUNDO PERFEITO
VEDE NO CRUENTO SANGUE DERRAMADO O VOSSO MUNDO PERFEITO

VEDE E PASMAI
vede e odiai a vossa pérfida natureza
VEDE IDIOTAS
escolhem beber da água da violência
escolhem o caminho mais rápido

IDIOTAS TODOS VÓS
GRANDES PODERES
IDIOTAS AUTO-IMPOSTOS
CRIADORES DE ANGUSTIA MUNDIAL

REBELIÃO!!
A UTOPIA JAZ
NA NOSSA MORTAL MÃO

querem viver num mundo desesperado?
não sentem o grito de revolta estrangulado

LEVANTEM-SE
ERGAM-SE DA TUMBA TODOS OS SEDENTOS
TODOS OS SOFREDORES
JUNTOS VÓS E EU TOMAREMOS O MUNDO A FORÇA

utopia já?
UTOPIA JÁ!

terça-feira, janeiro 18, 2005

passagem do tempo

os segundo parecem horas
neste mundo em que vivo
absurda esta transformção
e no entanto
perfidamente real

como se o proprio tempo
me quisesse atormentar
prendendo-me ao tempo presente
que nada tem para me dar

os segundos passam
passam lentamente
sufocantemente
os segundos passam

a areia parece fluir ao contrário
absurda sensação que se apodera de mim
quando revejo o meu passado
que não quero rever e que
no entanto
o faço

Do futuro tenho esperança
renascerei qual criança
nos braços da incerteza
da eternal cruel incerteza

omnipresente
o tempo
omnipotente
passa
mas parece nunca passar
o vazio momento presente

domingo, janeiro 16, 2005

metamorfose

fetalmente
deitado
fatalmente
destinado

casulo de dor
envolve o meu corpo
devastado
pela existência do meu ser

linho do mais negro
ausência de todo calor
sombrio sentimento sublimado
ausência de toda a cor

metamorfose incerta
perversa ou bela?
finalmente livre?
ou eternamente preso?

sairei do meu casulo
eventualmente
como sairei contudo
não posso responder

erguerei as asas
como borboleta leve?
ou serei apenas
mas um nojento verme?

o que me acontecerá?

enquanto o casulo me envolve cada vez mais penso na minha vida e não consigo ver o meu futuro obscuro pelas incertezas que consomem a minha alma, vagueante pelo espaço infinito da mente em cósmica e bela união de sentimentos que não sei definir

no casulo espero
o fim
da minha metamorfose

quinta-feira, janeiro 13, 2005

altar

no altar do sacrificio
coloco meu corpo
cansado

a faca descende
com piedosa intensão

a minha alma
tributo a quem a quiser obter
balança no fio da navalha
vezes e vezes sem conta

apercebo-me que estou só
nenhum deus veio reclamar o seu prémio
vejo meu corpo apodrecido pelo tempo
os idolos queimados e apodrecidos.

o deus que me salva
onde está?
morto
morto pela mesma faca
que me penetrou na carne
há tantos anos atrás

e eu
alma penada permaneco
aqui
sem deus
sem corpo
sem sentimentos nem emoções

apenas um vazio constante
onde a faca entrou cortante
no lugar do coração

questões

serei?
estarei?
porquê?

perguntas que me atormentam
neste mundo onde aceitamos os dogmas
sem pensar

serei? não o posso dizer
estarei? não o posso afirmar
porquê? como gostaria de saber

segunda-feira, janeiro 03, 2005

hino

a ti noite tenebrosa
à tua filha lua
dedico o meu pesar
a minha alma negra
pela qual escrevo para ti

tu
incorpória visão
materializada
no meu coração

tu
avena imortal
que só desabrochas
à noite

sempre presente
qual lobo faminto
devoras a minha alma
inconsciente

o teu chamamento
impossivel de resistir
caminho levemente
sem medo de cair

teus longos ternos braços
convida-me a sucumbir
no mais belo dos abraços
e ao teu seio voltar

profana união
entrelaçam-se os corpos
em eterna junção
os corpos obliterados

mais profunda das relações
mais eterna que o infinito
eternamente eu te amo
eternamete eu grito

lua, noite estrelas
arautos da minha dor
companheiras do pesar
melacólico
que me acompanha

poetas sem fim
outros mais sábios
em palavras que eu
vos descrevem em dor

e eu simplesmente
sinto
o que sinto
não desminto
a minha ignorância nas palavras
vocábulos incoerentes vos dedico
mas talvez
mas talvez....

mais sinceros

este é o meu hino
as estrelas que brilham
a lua que é
e a ti
que foste.

a dor dos outros

consegues sentir a noite
não mais silenciosa?

consegues sentir no ar
o canto sombrio de uma ave
que chora?

consegues sentir nos ossos
esse grande sentimento
que é a dor dos outros?

o choro de cada criança órfã
a solidão de um homem abandonado
as lágrimas de uma amante traida

o grito de dor do poeta

e todos estes males
podiam ser evitados
ou simplesmente
atenuados

por carinhosa mão
que se estende
piedosa
de gente humana como tu
e eu

apesar de sofrer
apesar de sofrermos todos
porque não?

abraçar a criança que chora
acompanhar o homem abandonado
beijar a amante que chora

calar o grito surdo do poeta
que não precisa gritar mais
quando não há razões para tal

ser poeta
é gritar palavras de ordem
é não ser e deixar estar
é não estar e deixar ser
é quando o mal dos outros
tambem o faz sofrer

nevoeiro

viagem de carro
lenta
nevoeiro denso
belo nevoeiro
passagem para um mundo proibido
talvez
talvez apenas só água
para os sem imaginação
talvez apenas nada
para aqueles que nada vêm

para alem do nevoeiro
por todo o nevoeiro
essa fria e bela aparição
jaz...

o que?
a incerteza de um ser com a alma atormentada
por mil dúvidas

a esperança
de encontrar
no impossivel
uma razão
de ser

manto translúcido de sublimada beleza
poder admirar-te sempre
poder ser sempre uno contigo
em toda a tua grandeza
descobrir os teus segredos
entrar no teu reino
ver todas as maravilhas
e nunca voltar
ser sempre


na terra prometida
esperança vã
eterna esperança vã
no mundo para além do nevoeiro
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