quarta-feira, janeiro 19, 2005

corpo

poder rasgar-me todo
sangrar definitivamente esta angústia
esta esperança que sempre me consome
o espirito já apodrecido
por tudo o que me rodeia

poder ocultar todos estes sentimentos
ser socialmente correcto e calado
poder ser apenas uma réstia do nada
esse oblívio doce que me escapa

não ser o que sou
esta cruel criatura
auto flagelada
pela minha estupidez

a cruenta espada ergue-se novamente
pela sétima vez
cai sobre o meu corpo
mais uma chaga
mais uma cicatriz
mais um tormento

e eu rio
rio da minha dor
como qualquer masoquista
(pois o que sou eu senão isso?)
e tremo
tremo com as lágrimas que se acumulam
nos meus olhos
não mais límpidos

atado novamente
o chicote cai
cai sempre na frenética noite
que me consome

FERINDO
CORTANDO
uma orgia de sangue e destruição
da qual não posso escapar

RASGANDO
PERFURANDO
a dor amarga não me larga
tornei-me viciado no seu sabor

UMA ULTIMA FERIDA
vejo a multidão apontar e rir
uma lágrima
uma única lagrima solitária
escorre
misturando-se
o sangue do meu corpo
a fraqueza da minha alma
a condensada sensação de abandono
e eu sou
em toda a minha omnipotente majestade
apenas mais um tolo
auto-cruxificado

aqui jaz o meu corpo
diz o meu epitáfio
junto das rochas negras
aqui jaz o corpo de
um que sofreu
um que amou
um que desejou sofrer
um que desejou amar
um que simplesmente desejou
não ser
o corpo que aqui jaz
esquecido por todos.

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