segunda-feira, fevereiro 28, 2005

porque não?
ser mais um número
entre as incontáveis massas
de idiotas
que aí caminham
fora
e julgam saber
sem saber o seu interior?

porque não?
as questões sem resposta
acumulam-se
até ao topo do mundo
e ninguém as pode responder

porque não então esquecer?
e ser um desses que pensa para o dia
sem o pensar
sem esforço de mente ou de corpo

esquecer

?

sinto
agora
dentro de mim
uma gaiola
uma grade do mais puro adamante
onde habita
na escuridão
algo
que sussura
"liberta-me ou morrerei"

eu não o sei libertar
não sei se o quero libertar
não sei se é o pássaro azul
ou um monstro devorador
que la habita

o que acontece
se a gaiola abrir?
se me abrirem a gaiola?

"liberta-me ou morrerei"
"LIBERTA-ME!"

tenho medo

impotência

há alguns que nascem com mãos
que rasgam os céus e as nuvens

há outros que nascem com mãos
que acolhem a água que dão a beber

ainda há os que nascem com mãos
que fazem tremer a terra

eu
nasci com as mãos de escritor
e escrevo
infelizmente
porquê?
porque não consigo fazer
mais nada de útil

as minhas mãos
não rasgam as núvens
não dão de beber
não fazem tremer a terra
simplesmente são
uma extenção do meu corpo
um apendice como outro qualquer
que nada pode fazer
se não escrever.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

tudo e nada

sangue
lágrimas
uma mescla
de obscenos fluidos corporais
espalhada sobre mim
a minha frente
do meus olhos e veias abertas que derretem
ou parecem derreter
numa poça
que se estende na distância
até a perder de vista
na imensidão de um espaço
que não consigo contemplar de todo
a minha vista perde-se
para além da linha do horizonte
turvo
negro
caio sobre mim próprio
e a minha essência
afogo-me lentamente
calma e conscientemente
sorrindo
enquanto a vida me é drenada
e estendo-me ao comprido
de face para baixo
tentando maximizar
o horizonte perdido.
(e a ultima cor que vejo é o cinzento)

Acordo
suor frio que me percorre o corpo
na absloluta escuridão do meu quarto
a primeira coisa que noto
é a chuva que me bate nos estores
fechados.
a musica
que antes tocava e convidava
ao sonolento descanso
não toca mais
e a minha mente abre-se.
(abre-se ao mundo e a mim)

Apetece-me abrir a janela
e deixar a lua cobrir-me
com o seu véu de carícias
e as estrelas coroarem-me
na sua esplendorosa existência
com explosões incandescentes
mas
abrir a janela
é quebrar a escuridão
é dizer não
é convidar o maldito
amaldiçoado luar a penetrar
na minha pele
nos meus ossos
na minha mente
e dissipar a escuridão do quarto
por isso
deixo-me ficar
aqui
sentado
na cama
e penso
(penso sempre mas a noite convida)

E a minha mente vagueia
pela escuridão das paredes
do quarto.
Torno-me um quarto
torno-me o quarto
deslizo pelas sombras
sem sequer me aperceber da minha existência
(será que existo?)

figuras de um passado presente
e não distante
perseguem-me
observam-me com os olhos
os belos magníficos olhos
cobertos de malícia
e algo mais que não sei nomear
(ou será que não quero?)

e na escuridão
um grito
AINDA ME LEMBRO
e ninguém vem
AINDA ME LEMBRO!
e ninguém veio
e um sussurro
não me quero lembrar
(não me quero esquecer?)

volto a mim
numa frenética e perigosa descida
da escuridão para o vazio do meu corpo
sentado na cama
no quarto escuro
(a escuridão é absoluta, o vazio é absoluto)

ouço um carro
não o consigo ver
pelos estores fechados
para onde vai?
não o sei dizer
mas caminha
para longe
daqui
de ti
(a distância é a solução?)

sinto nas veias
com a pulsação constante
da chuva que cai
a dor
o sangue
o sangue conspurcado por passar por mim
e sinto
o calor
como mil sois que ardem nas minha veias
e o frio
de um cristal de gelo perfeito
alojado nas minhas artérias
e ouço a chuva tentando acalmar-me.
Penso em como seria bom
poder
ter o poder
de o retirar
o algo que sinto
junto com o sangue
que o conspurca
e poder
ter o poder
e nada fazer
(e o coração bate como uma locomotiva)

antes da chuva
tudo me deixou
AINDA ME LEMBRO!

O grito de uma alma perdida
perde-se na distância do nada
o grito do verdadeiro corpo
irrompe duma implosão
em que o peito colapsa
num espaço deixado vazio
uma ruína de um castelo caído
impenetrável
que os anos desfizeram
em cinzas
(quando vier o vento e levar as cinzas o que resta?)

e o corpo explode
numa sinfonia que não sei descrever
e acordo
novamente
e a chuva lá está
a bater agora freneticamente
no sonho dentro do sonho dentro do sonho
que é a realidade.
(nada é real)

e a sensação de abandono
ninguém ouve o grito agora surdo
de um anjo caído
por não querer obedecer as leis do fado
e que sofre pelo girar da roda sobre si mesmo
em si mesmo
quebrando os ossos
quebrando a alma
(será que a tenho?)

antes da chuva a cruel irrealidade da existência de um sentimento
durante a chuva apercebo-me da realidade do sofrimento
depois da chuva(?)

haverá algo depois da chuva?

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Savatage - This Isn't What We Meant

We dared to ask for more
But that was long before the nights began to burn
You would have thought we'd learned
You can't make promises all based upon tomorrow
Happiness, security are words we only borrowed
For is this the answer to our prayers, is this was God has sent?
Please understand this isn't what we meant

The future couldn't last, we nailed it to the past
With every word a trap that no one can take
Back from all the architects who find their towers leaning
And every prayer we pray at night has somehow lost its meaning
For is this the answer to our prayers, is this was God has sent?
Please understand this isn't what we meant

A long time ago when the world was pretty
Standing right here in a different city
They're not coming back any more
They're not coming back any more!...
Is this the answer to our prayers, is this was God has sent?
Please understand this isn't what we meant

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

desabafos

voçês aí fora que dizem que sofrem... cada suiçida que prefere morrer porque a dor é demasiado forte... cada idiota juvenil que se corta para substituir a dor de um cerebro ausente por uma dor fisica... Pensam voçês que sabem o que é o sofrimento?
eu provo todos os dias esse sentimento, o meus actos não são reflectidos nisso, mas os meus pensamentos, cada vez mais negros, cada vez mais tenebrosamente reais, são o livro com que escrevo estes versos e estas palavras e esta prosa maldita que espero ver arder...
Não, não é culpa tua, não és o centro de atenção da minha dor... tudo, todos, parece sempre haver uma predesposição para o sofrimento da minha pessoa, como se fosse uma lei imutável do universo.
as coisas acabam sempre do mesmo modo, como se tivesse preso dentro de um círculo vicioso do qual não consigo escapar. sempre em dor
a maravilha está la
a alegria está lá, no ponto minino fora do alcançe dos meus braços tornados cada vez mais estupidos pela minha existência. e quando finalmente crescem e agarro, caio e largo e torno a tentar subir sem nunca o conseguir, afundo-me cada vez mais baixo numa existencia miserável em que não sei quem sou, o que sou, ou como sou.... as mascaras que uso caem uma atras da outra revelando um monstro que não quero ver ao espelho e, no fim, no fim de todas as coisas fica tudo na mesma... não encontro alegria senão efemera e momentânea nas coisas do mundo, na felicidade, na amizade, no amor, na alegria de um sorriso, não encontro!!!!!
não percebem vocês o que é andar perpetuamente so nos corredores da vossa mente, sentindo-se sempre incompreendido, indesejado... IN IN IN
SEMPRE IN
MATEM-SE SUICIDAS, CORTEM-SE IDIOTAS ADOLESCENTES, QUEIXEM-SE POETAS MORTOS E VIVOS (sim, tu mesmo Pessoa, queixa-te a vontade).

Não sabem o quão longe estão da realidade do sofrimento do qual eu pareço ser a incarnação

se este texto causa dor a alguma pessoa
se este texto vai contra algo ou alguem
não quero saber
quero sofrer.
atira TU a primeira pedra
cubram-me da cabeça aos pés
NÃO MEREÇO EXISTIR....

Ctn. C.

cai.
a chuva
antes fecundante
antes trazendo a germinação
da semente escondida

agora ácida
corroendo a roupa e pele
e os orgãos
no interior

e paro de caminhar?
não
continuo
parte de mim amaldiçoando
e outra parte bemdizendo
a chuva
que me corroi

não encontro respostas
apenas mais perguntas
a alteração minima da minha pessoa
que as traria
não consigo efectuar
logo deixo-me reduzir
a massa deixada
pela chuva agora opressiva.

arrastando
gemendo
chorando até de dor
o caminhante nunca para
parar é morrer
é sempre necessário
percorrer
os caminhos da mente
ladeados de armadilhas.

No meio de tudo isto, uma lágrima
não teimosa
teima em não cair
mas sim olhar para cima
enfrentar a odiosa chuva
com a pureza do seu líquido
e da essência

crucificado
atirado ruidosamente ao chão
pela chuva que teima em cair
os olhos e o corpo queimado
não consigo deixar de me arrastar
numa inútil tentativa de chegar a uma meta
que não sei definir
antes de um eu morrer

na chuva ácida da minha mente

terça-feira, fevereiro 15, 2005

ascenção de um novo deus

uma cadeia dupla helicoidal
repleta de pensamentos
onde habitam
Nietzche e Pessoa
em união

um supra ser
um novo deus
nasce do embrião primordial
de dentro de nós
seus profetas

o seu poder
derivdado
da poesia e da genética
um ser perfeito
existe.

dentro de nós
na hélice

e recusamos admitir a possibilidade
de trancendência
da ascenção de um velho deus
tornado novo pela compreenção
do nosso limitado poder

ele(a) virá
algum dia
destruindo tabus
pisando sobre seus pés
as fontes opressivas
da sociedade de hoje

ela(e) será

sem apoioantes
nem fanáticos adoradores
criando novas mitologias
e abrindo as portas
para a verdadeira
verdade

eles(as) crescerão
no seu peito abrigar-se-á o mundo
na sua mente abrir-se-ão as portas
que codificam os segredos
primordialmente concebidos
estranhamente ocultos

99,9%
a utilização pretendida
desta ferramenta
ainda tosca
que temos dentro do crânio

seremos então livres?
abriremos os olhos para admirar
um belo novo mundo?
os seus profetas
ferverosos (des)crentes até ao túmulo
creem que sim
eu
também o creio.

ele(a) virá
tomará a forma que quiser
talvez ja mesmo habite no nosso seio
alimentando-se da nossa sociedade
crescendo

um anti-cristo?
um novo-cristo?
não sei dizer
sinto apenas que
a chave está na hélice
nessa hélice que tentadoramente
fazemos rodar
nas nossas mentes
como motor
de uma imensa e bizarra locomotiva

descodificaremos os segredos
do arco-iris de mil cores
seremos através da ciência
um só talvez
num unico corpo
e através da arte
numa unica mente
animada de milhares de conhecimentos
e de sentimentos
numa profusão de cores eternamente bela

sonho, paranoia ou profecia
não o sei dizer
mas sinto-o
aqui

domingo, fevereiro 13, 2005

Dt.C.

das ruas não mais escuras
caminhante

lavadas
pela chuva ou por ti?
viajante

as pegadas do teu passado
apagadas
és fruto do momento presente
filho eterno atormentado
vagueante

inconstância da certeza
de não ter destinho
andar
errante

e permaneces
perene
ajustado ao teu fim
para o qual caminhas
sem o (querer) saber
planeta

as questões que te atormentam
lavadas também?
ou como folhas caducas
não?
"o que interessa é a procura, não a resposta que vamos encontrar"
responde ao vazio dentro de si
que não responde de volta
porque ficou sem ideias.

A.C.

poder caminhar
eternamente
a chuva
e relembrar
a falta dela
a ausencia da sua existência

pensar
enquanto a água penetra
nos meus ossos
e percorro
as ruas labirinticas
simultâneas
da mente
da cidade
do universo

e ser
na chuva
algo
irreconhecivel
ser uma união
ser a chuva

talvez assim não vejam as minhas lagrimas cair.

sonolenta apatia

neste momento de torpor
em que o sono nos parece invadir
penetrar por todos os poros
de um corpo aberto
caio na melancolia
invadem-me
os monstros da apatia

outros souberam encontrar
no sagrado sono um refúgio
uma realidade irreal
para alem deste mundo

para mim
o sono
o sonho
é uma mera extenção do que sou
aquilo que não sei denominar
mas que escolho não tentar fazer

o son(h)o não é para mim
um santuário
perfeito
mas antes
um tormento

não posso saber o que se passa quando estou a dormir
que demónios estranho sobrevoam minha cabeça latejante?
que escuridão é esta e o que guarda no seu ventre?

a apatia sonolenta
de quem dorme por obrigação
de um corpo que não consegue controlar
(se conseguisse não escrevia)

e acordar?
a sensação de não pertença
de não existência
o puro pânico de não saber quem somos
ao acordar

e aquele momento
indefinivel
em que fechamos os olhos para o mundo
e dormimos
e sono
e sonho (as vezes)

não quero escrever mais
não quero dormir mais
quero ter o controlo absoluto
qual rei tirano e divino
do meu reino em ruinas
e fitar o mundo
a lua
o sol
até me derreterem os olhos
e até não ser mais esta coisa
este corpo, esta mente, esta forma, esta boca, esta voz, este tudo, este nada, este eu.

não quero desaparecer numa explosão absurda de cor
quero esborratar
levemente
do quadro da vida
como um fantasma de carvão
apagado por uma borracha
suave e macia.

esperei encontrar isso na apatia
esperei encontrar isso no son(h)o
esperei encontrar isso na morte
tudo o que encontro é a minha existência
ainda presente
ainda aqui.

vou dormir
com sorte
talvez o mundo deixe de existir enquanto o faço
espero com todo o meu coração
que este seja o ultimo texto que escrevo
e que amanha so restem cinzas

obrigado por existirem
obrigado por existires
obrigado por compreenderem

a cortina cai
a peça acaba sem encores
o poeta dorme
o sono
dos tristes.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

sala

entro
na sala
de paredes brancas
que não consigo ver
mas que sei que lá estão

invade-me uma sensação
de presença
apesar da ausência
total
de gente
e da parede branca
que não consigo ver

e estas aqui
algures
dentro
neste ar que carrega
parte da tua essência

não mais ausente
contemplo
verdadeiramente cheia
a sala
e as suas paredes brancas
que consigo ver
para além do teu corpo espectral
presente sem o estar
e sorrio
com o calor que o teu fantasma
me trás

e a musica imortaliza o momento
todos os meus sentidos
destilados
num momento
para um momento
por uma recordação
de uma emoção

a tua ilusão
a tua presença apenas real
na minha mente
e no meu coração
permanece no ar que respiro
e que trás o teu cheiro.

domingo, fevereiro 06, 2005

as duas árvores

estar perante as duas árvores
do conhecimento e da vida
vergar-me perante
suas majestosas copas
repletas de frutos
saborosos

escolher
a cruel escolha
viver eternamente na escuridão
da estupidez humana
ou morrer num único momento
de omnisciente consciência?

sempre fui atormentado
com a falta de sabedoria
com o facto de não compreender
tudo

mas
ultimamente
tenho-me apercebido;
há coisas
que nunca conseguiremos
perceber

agnosia
será esta a verdade
da arvore da sabedoria?
seremos mesmo condenados
a nunca saber as verdades supremas?

Ah
como me da vontade trocar estas
estúpidas duvidas
por um momento de ignorância feliz
por um segundo fugaz
em que se sentem os lábios tocar
trocar todo o conhecimento
pela felicidade da estupidez
de não pensar
apenas estar
ali
naquele momento
feliz
assim

entre as duas arvores
escolho nenhuma
ou escolho as duas
não me consigo desdobrar
e ser simultaneamente os meus dois seres
os meus seres todos

a sabedoria
que trás a questão
que trás a dúvida

a estupidez
que trás o momento presente
que trás a possibilidade de ver cada momento pelo que é

aqui. prostrado perante as duas árvores
decido o meu futuro
e escolho não escolher
e ser como sou
imperfeito em todas as condições
humano
apenas completo na inconsciência de duvida
e na tua presença eternamente sublime
na minha mente
e no meu coração

e o aqui torna-se uma altar de sacrifício
onde o ontem e o futuro se encontram
perpetuando o momento presente
que não existe
a não ser na minha mente
onde habitas
tu

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