domingo, fevereiro 13, 2005

sonolenta apatia

neste momento de torpor
em que o sono nos parece invadir
penetrar por todos os poros
de um corpo aberto
caio na melancolia
invadem-me
os monstros da apatia

outros souberam encontrar
no sagrado sono um refúgio
uma realidade irreal
para alem deste mundo

para mim
o sono
o sonho
é uma mera extenção do que sou
aquilo que não sei denominar
mas que escolho não tentar fazer

o son(h)o não é para mim
um santuário
perfeito
mas antes
um tormento

não posso saber o que se passa quando estou a dormir
que demónios estranho sobrevoam minha cabeça latejante?
que escuridão é esta e o que guarda no seu ventre?

a apatia sonolenta
de quem dorme por obrigação
de um corpo que não consegue controlar
(se conseguisse não escrevia)

e acordar?
a sensação de não pertença
de não existência
o puro pânico de não saber quem somos
ao acordar

e aquele momento
indefinivel
em que fechamos os olhos para o mundo
e dormimos
e sono
e sonho (as vezes)

não quero escrever mais
não quero dormir mais
quero ter o controlo absoluto
qual rei tirano e divino
do meu reino em ruinas
e fitar o mundo
a lua
o sol
até me derreterem os olhos
e até não ser mais esta coisa
este corpo, esta mente, esta forma, esta boca, esta voz, este tudo, este nada, este eu.

não quero desaparecer numa explosão absurda de cor
quero esborratar
levemente
do quadro da vida
como um fantasma de carvão
apagado por uma borracha
suave e macia.

esperei encontrar isso na apatia
esperei encontrar isso no son(h)o
esperei encontrar isso na morte
tudo o que encontro é a minha existência
ainda presente
ainda aqui.

vou dormir
com sorte
talvez o mundo deixe de existir enquanto o faço
espero com todo o meu coração
que este seja o ultimo texto que escrevo
e que amanha so restem cinzas

obrigado por existirem
obrigado por existires
obrigado por compreenderem

a cortina cai
a peça acaba sem encores
o poeta dorme
o sono
dos tristes.
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