domingo, janeiro 01, 2006

planícies

na plainura verdejante
ergue-se
qual monólito
omnipresente
um vento quente
que arrasta atras de si
a violência de uma tempestade

a paz temporária
esse estado transiente
de felicidade suprema
passa inconscientemente
queimando a planície
derrubando as árvores

o que pode crescer nas cinzas do desejo?
no desejo de recordar uma memória futura?
espero que o monólito caia
que as águas de um mar profundo o consumam e corroam
ate restar um nada que tudo consome
pois mesmo as poeiras podem cegar

no entanto há que ter esperança
que a florestação verdejante
volte triunfante
à majestade da plainura

sem título1

lutando contra o amanhecer
criamos torturas
ternura
dentro de nós

esse amanhecer vermelho
a perda de sangue e inocência

Erguemos bem alto cálices ao deus sol
nossas facas descem sob os sacrifícios da mãe lua

somos enfim mortalmente insanos
ao contemplar a nossa fragilidade
atiramos os braços aos céus
nossos braços cortados
e olhamos com olhos flagelados
para a pureza das estrelas sem ver o divino
mas a falsa existência para além do véu

corro
corro agora pela praia,
escrevo automaticamente na areia as baboseiras que me vêm a cabeça não fluidas mas em torrentes sem vírgulas que não consigo conter e não quero conter porque são boas ideias e a minha cabeça lateja

a areia acaba
não corro
sento-me no ultimo desenho que fiz
e apesar de grotescamente mal feito
representa algo que não posso
agarrar, exprimir, sonhar
uma existência fundamentalmente qualquer coisa

Tudo arrastado
todas as questões
enquanto fantasmas me roubam o bafo
sob as luas de Saturno
acima em corpo do profundo Hades

rasgo meus desenhos
minhas palavras
minhas almas na areia
ate tudo o que restar
seja mais um fragmento
de uma realidade que não sei se o é

será o esquecimento uma medida de protecção
ou apenas efeitos secundários de uma esquizofrenia que desconheço?
Tento arrancar de mim as palavras
essas doces palavras que são uma panaceia
mas não as sinto
não as sou
saem-me afim
frouxas
ignóbeis
não representam a cura
a catarse
mas sim a doença

a vaga memória de um passado que não queria
(não posso esquecer)
queima-se dentro de mim
de mim todo
ate apenas restar esta pequena cinza queimada que escrevia
que corria
que se auto destruía
na praia
no deserto da minha descompaixão!

Pudera eu chegar a esse doce oásis
a essa maravilhosa tentação
por enquanto
remeto-me às palavras
ocas
inócuas
frias
que não consigo articular

Requiem

Enquanto enternecidas
rejubilam as multidões
no meio da confusão
há uma entidade que chora
com a passagem da hora
uma morte prematura

Enquanto os segundos
passam imparáveis
e as multidões incansáveis
aprontam as gargantas
para gritar vivas
paro para pensar
(há um distinto
sabor mórbido no ar)

Há medida que o novo ano entra
e o velho passa da memória
as questões não desvanecem
a memória persiste

agarrando-se
desesperadamente
ao novo efémero segundo
(o último segundo de vida)
o ano moribundo luta
contra a tirania do tempo,
contra a tristeza do esquecimento
e perde...

Abençoado como um rei ao nascer
esquecido a um canto ao morrer
o ano antigo desvanece
e na memória permanece
um eterno vazio

Aqui jaz 2005.

um último adeus a ti

(espero que no final todas as tuas respostas tenham sido respondidas, que tenhas vivido bem a tua curta vida, apesar de não poder garantir que ficas na minha memória, ficas sem duvida armazenado no subconsciente a que de forma carinhosa chamamos "coração".)

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