domingo, abril 10, 2005

heroinómano

ao largo destas trevas
noctunas
frias e convidadativas
caminha o viciado
em busca de uma nova dose
de tempo
que lhe escapa pelas mãos
como o casaco roto
que ondula ao vento
e tenta desesperadamente
agarrar

corre sempre
contra o vento
contra o tempo
contra todos
contra si
na busca desesperada
de mais uma medida
de esquecimento

afogando-se
no mais profundo
mar castanho de sargaços
deslizando pelas estrelas quentes
de umas mãos ausentes
da dealer do beco

agora cara a cara
não sabe se o que o vicia
é a droga tão pura
ou a face macia
que não se atreve a tocar
mas que o acaricia com o olhar
mesmo sem saber
mesmo sem o querer
mesmo talvez desprezando
aquele verme viciado
que ali deixa o seu dinheiro
e sua alma
e volta outra vez
para outra dose
noutro dia
outra vez

"espero nunca me curar para não deixar de poder olhar para os teus olhos sem elouquecer ainda mais"
"espero que nunca tenha de ser doente ao ponto de me curar ou de morrer, sem te dizer, tavez, adeus"

caminhando
sob o veu de núvens etéreas
de uma nova dose
que ressaca logo
o viciado anda
tolo
e esquece
e o seu casaco roto voa ao vento
para lá das estrelas

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Rapaz...tanta conversa sobre vicios :|

e falas bem, e com alma...es viciado em k? :|

ve la ve!

bem, passagem rapida mas aqui esta o meu contributo!*

11:40 da tarde  

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