quinta-feira, março 31, 2005

O que há
para além
desta doença terminal
que é a vida
este hipocondríaco mundo
onde vivemos
uma doença de cada vez
anseando por uma cura
a todos os problemas
que nunca encontramos
a não ser na morte
a não ser longe daqui e de tudo
e talvcz nem a morte seja a cura
apenas um adiar de uma não existencia
fora deste estado de doença
esta mente que debita palavras talvez sem sentido
talvez geniais
(não me importo, não quero saber)

E aprendemos a viver doentes
e a esconder bem dentro de nós os sintomas
que tanto detestamos revelar
e escrevemos, rezamos, choramos, fodemos
semos, enfim, humanos, para poder esconder a nossa fraqueza
dos nossos próprios olhos
tentando encontrar uma redenção divina
encontrar o que não podemos ver
uma miragem real
num mar de irrealidades palpáveis

e um sonho de um mar que se estende para o infinito
onde habito numa jangada
esperando pelo monstro que habita nas profundezas
que me devore
e me deixe em fim descançar de uma viagem sem fim pelo mar infinito
anseio descançar enfim
numa sepultura aquática
mas ilude-me a sua ausência
continuo a vogar num mar calmo
mas cheio de correntes traiçoeiras
onde me perco
outra vez

inundamo-nos em coisas
e coisas e coisas
que não precisamos mas que somos levados a ter
pelo prazer de consumir
e existir apenas hedonicamente
para devorar tudo e todos a nossa volta
egocentrimos absoluto e devastador
sem nos importarmos com todos os outros
e a sua suposta felicidade
(outra mentira... tudo são mentiras, até a verdade)
e deixamos um rasto de fogo e mágoa a nossa volta

quem me dera ser assim
poder atracar
abandonar o mar
e ferir todos os seres vivos
não deixar nada escapar, nem mesmo eu
num acto de mutilaçao final
silencioso e calmo
como o som de uma musica que acalma no final
deixando um sentimento de vazio
preenchido pela faca que corta cada vez mais fundo
e pelo sangue que ao sair deixa o sabor do ferro e da morte na boca

começo a chorar e continuo a rir
quando vivemos dos e para os outros
(como nobres parasitas)
temos de aprender a sorrir
para sermos confiados
qual será a mais importante das coisas?
sorrir ou chorar?
a mentira mais proxima da verdade ou a mais distante?
o que é o quê?
tanta pergunta
tanta merda de pergunta que apetece esfaquear o cérebro na esperança de a hemorragia estancar o fluxo do pensamento
declinar para um estado de vegetal
preso apenas à tirania suprema do inconsciente
(do qual não há fuga)
e deixar um sorriso na cara
até morrer nos braços de um amor maior que a morte
outra vez.
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