sábado, março 05, 2005

eterno retorno

somos todos como pequenos cães
pequenos e perdidos
separados dos nossos pais
porque eles morreram
e perseguimos a nossa cauda
em movimentos circulares perpétuos
até morrermos ou procriarmos
e perpetuarmos o ciclo outra vez

e habitamos todos no ventre de uma serpente
que morde a sua própria cauda
de tal maneira que não sabemos o seu principio e o seu fim
um círculo perfeito
do tempo que não tem fim nem retorno

somos como organismos a ser digeridos e reingeridos
pelo corpo da serpente
passando por milhares de aleatorias combinações atómicas
repetindo eventualmente de forma igual tudo o que vivemos hoje

o que tenho eu para agradeçer a este retorno?
o que tenho eu a dizer neste proema que ja escrevi infinitas vezes
no passado e no presente?
terei encontrado respostas as minhas pergunas?
o meu passado ainda será
e o meu futuro já o foi
noutra altura
no círculo do tempo.

a mesma dor
e os mesmo sentimentos
e a mesma musica
e o mesmo tu
repetidos infinitas vezes....

será que nalguma correu bem?
será que nalguma encontrei respostas?
será que nalguma sou verdadeiramente feliz?
os outros eus que o digam
que o escrevam no proprio corpo da serpente
tatuado permanentemente
"eu sou feliz"
eu
aqui e agora
escrevo
neste veículo
que será eventualmente consumido pelo tempo e pelo esquecimento
e repetido milhares de vezes
(a fotocópia de uma fotocópia de uma fotocópia)
e escrevo palavras que não fazem sentido
a não ser para mim.

e espero pelo retorno
como cão de olhos tristes
moribundo a perseguir a cauda
espero pela outra vida
que não vou sequer saber que existirá
onde sou feliz
e não escrevo estas palavras
porque não há necessidade
porque sou feliz
(e a questão "serei?" ecoa no ventre da serpente).
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