sábado, março 05, 2005

o fantasma revesitado

não tenho certezas. Apenas a dúvida é eterna (mas nada é eterno) a dúvida dura até eu morrer (será que durará?) e caminhamos inconscientes das questões, ignorantes das respostas que nunca vêm por três razões (irónico este numero) ou não são procuradas, ou estão bem ocultas, ou não existem. Será tudo cientificamente explicável? haverá respostas para tudo? (gostaria de pensar que sim mas não consigo) a única coisa que não duvido é do facto de que não seria desagradável desaparecer. Não numa explosão, não esbater lentamente mas simplesmente desaparecer não existir mais. Quem choraria o meu desaparecimento? os meus pais e a minha família talvez, por uma espécie de obrigação moral, afinal sou filho deles, sangue do seu sangue. Quantas pessoas chorariam por si? chorariam por mim? quantas pessoas toquei eu na minha vida? (será que ainda toco em alguém?) quantas pessoas ansiariam um toque, uma carícia ou um simples cumprimento de mim?
ainda anseio por contacto, ainda não me consigo soltar dos meus sentimentos, das minhas duvidas, da minha existência. Como seria bom deixar de ser eu por um segundo só, tornar-me um fantasma de mim e vaguear o mundo...
Cativa-me demais esta existência, cativa-me demasiado o sofrimento a que eu próprio pareço estar predisposto a sofrer pela minha própria mão às mãos dos outros.
Já não consigo fazer sentido. Restam-me estas palavras que provavelmente não significam nada, um sopro que o vento arrasta para longe, para bem longe, juntamente com os gritos dos outros que ninguém conhece, que ninguém procura ou quer conhecer.
E a musica, as cruéis musicas que me ecoam no cérebro e nos ossos, coisas que não sei descrever por palavras mas apenas por gestos, esse gestos que me iludem e parecem não sair (haverá alguém que me segure as mãos frias?)
Vejo, com estes olhos um mundo que não merece existir, um mundo de inveja e guerra e morte e tristeza e tudo. Não consigo encontrar motivos para o adorar. Esperança? pedem-me esperança e paciência algumas vozes dentro de mim, este meu confessionário onde sangro palavras profusa e conscientemente.
Serão todas as minhas feridas auto-infligidas? serei o único culpado de me sentir assim? quem mais poderá ter a culpa? ninguém em particular e todos em geral por nos deixarmos levar por nós e não sermos superiores ao animal que pensamos já não ser mas que na realidade ainda somos.
Será a liberdade apenas uma alucinação? um conceito criado por loucos, poetas e políticos para disfarçar as nossas invejosas ambições de querer ter e ser tudo e pisar maquiavelicamente todos os outros na procura da nossa felicidade que acaba por se tornar o seu oposto uma vez que acabamos sós.
Acabamos sempre sós, nada dura para sempre, nem o tempo que pode ser afectado pela velocidade, e nós somos as menos eternas de todas as criações alguma vez imaginadas, na nossa fragilidade de humanos escolhemos esconder-nos em emoções falsas criadas pela sociedade, cada vez mais consumista e carnívora que nos obriga a existir como moldes de um mesmo ser.
Ter a coragem de dizer não! de ser outra pessoa, noutro sítio, noutro tempo. mas não aqui. Aqui não vivo, sobrevivo na esperança (será que a há?) de ser aqui, neste tempo, a outra pessoa que posso ser. Não creio, contudo na possibilidade da reversibilidade desse equilíbrio precário que existe agora entre os meus vários eus, as minhas fases imisciveis e etéreas, contidas no mesmo recipiente, na mesma mente, estarei então perpetuamente condenado ao desequilíbrio. Resta saber para que lado tende a reacção.
Tudo morre, tudo se transforma inevitavelmente em pó nas nossas mãos. seremos nós apenas também pó? o que nos guia através deste mar de adversidades? um instinto natural de sobrevivente, uma suposta alma perpétua e divina, ou o simples poder das nossas mentes que se recusam a admitir a inevitabilidade da derrota as mãos do tempo e de tudo?
para quê lutar?
terá esta pergunta de ter resposta? teremos de arranjar um sentido para tudo? não basta viver a vida simplesmente pelo que é e sentir tudo, viver tudo ao máximo?
procurei tentar viver entre os dois opostos e não consigo sentir-me bem em nenhum deles, tento viver no meio mas existem sempre catalisadores das reacções inversa e directa que tendem para a loucura de duas formas diferentes mas, no entanto semelhantes.

o que fazer então?
procurar as respostas?
deixar de as procurar?
viver num mundo idiota e cruel?
revolta? apatia?
utopia? distopia?

vagueamos sempre pelas nossas mentes a procura de respostas a enigmas silenciosos que gritam mais que todas as vozes e ardem mais que todos os fogos e no entanto permanecemos os mesmo, agarramo-nos as nossas convicções por mais estúpidas que sejam e não nos apercebemos da realidade.

por mais forte que sejamos
perdemos
sempre.

1 Comments:

Blogger grim_ said...

peço desculpa aos preguiçosos e ao mundo em geral pelo tamanho do texto mas há coisas que não podem ser ditas em poucas palavras assim como existem feridas que não podem ser facilmente saradas.

1/10 perceberá
1/2 julgará perceber
2/5 não perceberá

(se calhar estou a ser demasiado optimista nas estatísticas)

9:24 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home

Counters
elearning