quinta-feira, junho 16, 2005

uma morte, uma vida

hoje estou triste
morreu uma amiga
(a única que viveu realmente em mim)

agarrei-lhe a mão pálida
enquanto se esvaia em sangue
e tu!
vulto sombrio que seguras a faca
com a qual abriste o golpe
escondes-te
nas profundezas da minha mente

não há tempo para últimas palavras
não há tempo para uma ultima troca de olhares
para um último beijo como nas frígidas telas de cinema
num instante o fogo da sua vida apaga-se
deixando os olhos tristes e a pureza do vestido branco manchada

já não escorrem lagrimas da minha face
nem mesmo para lavar a minha mão manchada de sangue
fecho-lhe os olhos deixando uma fita de sangue marcada
como uma tatuagem de guerra
no rosto da paz

levanto-a nos meus braços
(meus cansados e pesados braços)
e levo-a
através do longe e da distância
para longe daqui
para longe de ti

cresce dentro de mim um grito
que tento calar
mas que grita por dentro
"perdoa-me"

e lá estás tu
sempre nas sombras
da minha doce loucura
puxando-me para baixo
atando-me em teus braços
sofregamente
lambes a faca
ainda manchada

minha doce loucura

minha noiva moribunda
jaz agora no gelo
onde apenas as amaranth crescem
(mas mesmo elas murcham)

volto-me e lá estás tu
sublime na tua beleza
una com as sombras
percebes melhor que ninguém
a dor
o prazer
a simples essência de ser
sem nunca ter ambições de o ser

abraço-te
e lavo teu seio com minha lágrima solitária
afagas-me a cabeça como tantas vezes fizeste
poisas a faca finalmente e consumimo-nos

como sempre fizemos
circularmente
gritamos finalmente de prazer orgiástico
e o ciclo recomeça
uma vez mais
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