quinta-feira, novembro 25, 2004

o espelho

entre dois espelhos
vejo
infinitamente reproduzido
uma máscara odiosa
a minha cara
sorrindo

mil vezes reflectida a dor que sinto
arder dentro de mim com toda a força do mundo

em cada reflexo
de cada vez que olho para a infinitude
tu estás lá
no limite da visão
sempre
perene
imortal avena
bela para sempre

a mim
mortal
é impossível atingir-te
(outros haverá mais dignos talvez
dou-lhes os meus parabéns)
que possam ser felizes
na consciência de tal facto

eu
ao ver-te assim
longe
afastando-te cada vez mais
desesperei

desferi um murro no espelho
feri a mão com o meu sangue impuro
na esperança de afastar a tua bela imagem
do meu coração magoado
do meu coração moribundo

contudo
multiplicada milhares de vezes no espelho partido
o teu reflexo persegue-me
e eu só quero esquecer
só quero ser feliz como se não se tivesse passado nada
mas a minha mente
a minha negra mente
aliou-se ao masoquismo do meu coração
e não posso esquecer o que sinto por ti

o teu reflexo
multiplicado mil vezes
lembra-me sempre da dor de amar
da dor de sentir
quero ser livre disso
não te quero amar
mas não posso deixar de o fazer
um paradoxo para o qual
não encontro solução

a única coisa que pedi á vida
foi que eu fosse feliz
tudo me foi negado
até o simples desejo
de uma palavra amiga
num momento de dor
infinita

mas a culpa não é tua
não pode ser tua
(tu és perfeita?)
a culpa não pode ser simultaneamente de todos
e todas
só resta um
para depositar
na tumba da culpa
e do desespero
eu
para sempre teu
para sempre dor
para sempre assim
sofrimento

entre dois espelhos partidos

2 Comments:

Blogger João Afonso Adamastor said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

7:38 da tarde  
Blogger João Afonso Adamastor said...

"Amanhã eu hei-de ser assim,
um lugar que um espelho ocupou.
A fantasia é muitas vezes
o que fica de mais autêntico numa criatura." ]hnz[

8:03 da tarde  

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