sexta-feira, novembro 19, 2004

anjos

seres divinos e...
no entanto....
humanos

caminham entre nós
silenciosos

partilham nossa dor
nosso sofrimento

choram nossas perdas
choram lágrimas douradas que recolhem
em cálices prateados

lágrimas divinas
repletas do mais profundo pesar
da mais funda dor

eu bebo desse cálice
a prata fumegante queima-me os lábios
queima-me a alma

EU VEJO
VEJO OS ANJOS
SERES DE PURA LUZ BRANCA
RASGAR SUAS PRÓPRIAS ASAS

SOFRIMENTO
TÃO GRANDE
INCOMENSURÁVEL

não!
NÃO!!!

tenho de os segurar...
tenho de os salvar

não os posso salvar a todos
alguns caem
suas formas distorcidas pela dor
seu sangue divino
espalhado pelo chão
formando lagos

meus braços estão cheios...
não os consigo salvar...

pesado
sempre rasgando as asas os anjos loucos caem para a sua morte

o lago aumenta para um rio e para um oceano

luto para ficar a tona

o sangue entra-me nas veias, nas narinas, nos pulmões

arde
arde como mil fogos
arde como mil adagas geladas
fere

os anjos somos nós
humanos divinos
que sofremos
e eu que sofro por vós
e por vossa dor

não rasguem vossas asas
voem
sejam livres
deixem-me em paz
deixem-me ser feliz na solidão
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