sexta-feira, agosto 26, 2005

vermes

da àrvore do desejo
apenas duas coisas nascem
o fruto da paixão
que apodrece
e cai
moribundo
no chão

(é consumido por milhares de larvas famintas que habitam e parasitam a arvore esperando abocanhar o fermentado fruto, devorando mesmo as sementes, impedindo a árvore de germinar na sua idiótica e parasitária maneira de pensar, destruindo assim a única esperança de serem livres, de se tornarem autosuficientes e deixarem de se devorar, deixarem de debicar as frondosas raizes da árvore e tornarem-se o arauto da sua desgraça.
Vermes desprezíveis, pereçam sob a força de mil sois, morram longe e sintam a dor que infligiram, não há arrependimento suficiente para a vossa raça, estão condenadas a percer, por vossas próprias mãos)

o espinho da dor
cravando-se
na pele
revelando assim
a cor carmesim
que cai infinitamente
para cima
para baixo
para todos os lados

(por todos os lados estamos cercados, vivemos assim na inconstância de algo que se tornou não mais profundo, não mais belo mas sim uma perversa encenação que que desfilamos com mascaras de horror, procurando suplantar todos com nossa horripilante sensação egocêntrica de nós mesmos.
Perfumamo-nos com o sangue dos pobres, cobrimo-nos com as visceras de uma sociedade decadente que ainda se contorcem como se há pouco arrancadas do animal e somos felizes assim, procurando suplantar tudo e todos na nossa repugnante cruzada contra nós mesmos, sem parar para nos apercebermos de quão ridículos somos, o quão patéticos devemos parecer as proprias pessoas que tentamos agradar, para agradar a nós mesmos na nossa imensa estupidez.
Seremos pois diferentes dos vermes? parasitas como eles?)

e no entanto cresce
a árvore
e floresce
o fruto
o espinho
e dançamos todos alegremente
ao som do seu choro
que aprendemos a ignorar
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