buraco negro
no canto de todos os sonhos
na sombra de todos os pensamentos
movendo-se predatoriamente
lá estás tu
carnívora
devorando-me
como a chuva que ao cair
revela o lamacento núcleo
saem de mim sentimentos
que julgava perdidos
enterrados bem fundo
nas profundezas do eu
com cada momento de ausência
cada recordação de ternuras adiadas
tudo volta
e o ciclo de dor
essa já tão familiar sensação
recomeça
contigo no centro de tudo
qual buraco negro em que sugas para ti
toda a luz
toda a réstia de esperança
que habitava ainda em mim
consome-me de uma vez
e não assim
aos poucos
lentamente
engole-me sofregamente
como um vicio
deixa meu sangue escorrer
por teu queixo
devora-me
trás-me
enfim
a paz
dentro de ti
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