segunda-feira, agosto 15, 2005

piano



dançam
fortes mas suaves
os dedos sobre as teclas
gemem e cantam
as cordas tensas
ansiosas por agradar

insegura
a plateia espera
um deslize
uma única errada movimentação
que não chega
das mãos
que como aranhas
se movem
sobre as teclas

sublime caos musical
desconstrucção técnica minimalista
fragrantes melodias
sinfonias eternas
tudo passa pelas mãos do artista
tudo se torna um breve momento de revelação

por detrás das teclas
a figura de negro desaparece
e somos elevados
voamos e descemos
perigosamente
sobre nós próprios

e eis que se aproxima o êxtase
o culminar de uma fuga infeliz
de uma sinfonia patética
a ultima tecla
cai

o silencio de seres espectantes
dura breves dolorosos segundos
ante a ausência daquele som
e
depois de tudo
será que algo resta
se não os fantasmas das notas
vagueando
no rosto do pianista que se verga
nas mentes dos que viram
nos ouvidos dos que ouviram
nos corações dos que sentiram

teremos descoberto
a tão esperada catarse?
naquele momento de silêncio
habitará ela espectante?
quem sabe dizer
senão as notas
que ecoam
ainda
na rua
em nós

ali
sim
está algo

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