quarta-feira, fevereiro 15, 2006

?Dual?

Como uma treva
que me rasga a pele sob a forma de letras
letras rubras pintadas com a minha alma
o sangue que flui das feridas abertas

Como uma luz
que entra dentro de mim
sarando todas as feridas
curando estupefacto este corpo partido

Como uma imensidão
onde deslizam eternidades
num único e fugaz segundo

Como um nada
que anseia ser enchido
por tudo aquilo que não pode ser

Assim é a natureza dual
(não minha
mas minha e vossa)
das nossas coisas partidas
ansiamos pela luz com a mesma doçura que fazemos o mal
Enchemo-nos de vazio enquanto abraçamos a gloriosa luz que nos rompe do ventre

Dual
esta esquizofrenia pandémica
espalha-se ao simples toque
de dois lábios que se fundem
de dois corpos que se tocam
num fugaz relâmpago de um abraço

Único
este momento
este sentimento
esta coisa inominável que cresce dentro de mim
de nós que somos vários
de nós que somos a legião
voltando aos porcos e atirando-nos do precipício
voamos sem cair nessas assas estranhas
que apenas podemos ver
quando estamos cegos

Vedes a gaivota cinzenta?
Vedes como voa rente a água?

Ah beber o suco divinal do voo de uma asa
saber por fim a origem da natureza dual
num voo icárico aos píncaros solares
sem nunca cair

Ah DUALIDade
multiplicidADE
Eterna demonstração do monstro desconhecido
que guardamos nas entranhas
sede minhas guias nestas viagens!

Obrigado

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